quarta-feira, 25 de abril de 2007

SOLIDÃO

Solidão
"A solidão é e sempre foi a experiência central e inevitável de cada ser humano". Essa afirmação não é da minha autoria (não costumo ser dogmático), mas do escritor Thomas Wolfe. "Bobagem", dirão os eternos críticos, que vêem defeitos em tudo e imperfeições em todos. São aqueles indivíduos chatos, que fazem questão de ser "do contra", desagradáveis e antipáticos, e que emitem juízo a torto e a direito, tais pessoas juram que nunca se sentiram sozinhas. Claro que mentem! E desavergonhadamente.
A solidão a que me refiro é a da ausência dos outros ao nosso redor. É mais profunda, e, portanto, mais trágica, posto que difícil (senão impossível) de suprir ou mesmo de remediar. É a caracterizada pela carência de comunicação. Não aquela superficial, dos gestos ensaiados e das palavras ditadas pelas convenções, mas a real, a verdadeira, a genuína: a dos nossos mais recônditos sentimentos e inconfessáveis inquietações. Para que esta se concretize, faltam palavras e símbolos. Esses tormentos, os da incomunicabilidade e da incompreensão, temos que suportar sozinhos, sem podermos compartilhar, sequer (e muitas vezes principalmente), com aqueles a quem mais amamos e em quem depositamos irrestrita confiança.
O principal motivo é que nossas emoções são tão complexas e individuais, que não conseguimos nem mesmo verbalizar o seu conteúdo. Temos só uma vaga intuição acerca da sua natureza e extensão. Como queremos que os outros compreendam um sentimento que temos, de fato, mas que não entendemos o que é e nem sabemos definir como se manifesta?Aliás, a rigor, sequer conhecemos, com razoável aproximação, "o que" sentimos ou "o que " nos inquieta. É uma sensação vaga, imprecisa, e por isso irremediável. Nossa busca pela razão está apenas no princípio, embora, de maneira arrogante, achemos que somos sumidades de racionalidade. Nossa distância mental com os animais irracionais, no entanto, é ínfima, é muito reduzida.A pior das solidões é a que sentimos quando acompanhados, no meio de uma multidão. Não se trata de uma questão quantitativa, mas de compreendermos os outros e nos fazermos compreendidos por eles. Maridos e mulheres, pais e filhos, irmãos, parentes de quaisquer graus ou amigos, por mais íntimos que sejam, por maior afinidade que tenham conosco ou por mais que necessitemos de suas presenças, jamais nos completam. A maioria dos sentimentos, das emoções, dos medos e das inquietações temos que suportar de forma absolutamente solitária.

Quanto mais racionais nos tornamos, mais temos que aprender, e nos acostumar, a conviver com a solidão. Nossa evolução não é acompanhada, necessariamente, pela dos que nos rodeiam. Estes, muitas vezes, até regridem, o que é mais comum do que se pensa. Entregam-se a superstições, escondem-se no álcool, nas drogas, ou em diversões baratas e banais, que não passam de perda de tempo, evitando o incômodo encontro consigo próprias, numa tentativa desesperada (e inútil) de preencher esse vazio na alma que sentem, mas não sabem definir. Não suportam encarar suas fraquezas, patifarias e defeitos.
No silêncio do meu quarto, às voltas com minhas indefiníveis inquietações, pensando nas pessoas que sofrem de males mais palpáveis e concretos do que os da solidão, como fome, frio, dores provocados por doenças incuráveis e pelos maus tratos recebidos da vida, carentes de absolutamente tudo e muitas vezes ansiando, desesperadas, por alguém que somente as ouça, as valorize e as trate uma única vez com dignidade e respeito, faço, ansioso por uma resposta que sei de antemão que não terei, a mesma pergunta que o compositor Paul McCartney fez, na inspirada letra da canção "Eleanor Rigby", sucesso dos Beatles: "Haverá um lugar especial para os solitários?" Ou, para ser mais preciso em relação aos meus anseios, indago: "Haverá um lugar especial onde possamos estabelecer comunicação total com os semelhantes, sem precisar de palavras?" Fica a pergunta no ar...Mas acredito que não!
APRENDIZADO Na opinião dos especialistas, o mundo atravessa um momento histórico em que a pressão por uma vida acompanhada está deixando de existir. "Cada vez mais as pessoas estão se encaminhando para existências solitárias. Desaprendeu-se bastante a conviver a dois, por exemplo, e assume-se a opção de ficar solteiro. É um fenômeno social, a humanidade está se adaptando à solidão".


Enquanto alguns investem nos benefícios dos longos momentos de isolamento, outros fogem deles como o diabo da cruz. "Faço o possível para ter muita gente perto de mim. Gosto de grupos, gosto de receber atenção. Para mim, o pior da solidão é não ter com quem compartilhar os momentos bons ou ruins. Preciso ter a visão de testemunhas para tudo", conta."Basta olhar ao redor para comprovar isso. As pessoas andam sozinhas, dançam sozinhas. A mulher solitária de hoje não é mais uma solteirona trancada num quarto de pensão. Tudo está mudando."Conviver bem com a solidão tem a ver, principalmente, com maturidade. "E só amadurecemos nos expondo a situações de dor. Isso aumenta nossa tolerância à frustração”.

Situações de rompimento afetivo servem de exercício a esse amadurecimento. "Há uma confusão muito grande. As pessoas misturam a dor das rupturas amorosas ao sentimento de solidão --não são a mesma coisa. Um momento de ruptura amorosa é particularmente doloroso porque nos leva a experimentar sensações de desamparo. Porém, quando a separação se concretiza, o que resta disso é uma sensação de incompletude que é característica do ser humano".a.Gikovate afirma ainda que quem convive bem com essa incompletude está mais apto a relacionamentos saudáveis. "Quem suporta ficar bem sozinho estabelece melhores vínculos afetivos. São aqueles para quem, realmente, estar sozinho é sempre melhor do que estar mal acompanhado."

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